PUTIN E IRÃO ALTERAM AS REGRAS DO JOGO
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

PUTIN E IRÃO ALTERAM AS REGRAS DO JOGO

PUTIN E IRÃO ALTERAM AS REGRAS DO JOGO




Por F. William Engdahl


A dinâmica da política externa russa desde que os EUA têm forçado uma declaração de guerra efectiva por via de sanções económicas e financeiras contra a Rússia é impressionante para dizer no mínimo. Se vai ser suficiente para romper o cerco económico de Washington e abrir o caminho para uma verdadeira alternativa económica global para o falido sistema do dólar ainda não é claro. O que está claro é que Vladimir Putin e a facção dos barões industriais que decidiram apoiá-lo não estão encolhido com medo. O exemplo mais recente é a recente visita do ministro da defesa russo a Teerão, para fazer grandes acordos de cooperação militar com o Irão. As implicações para ambos os países, assim como para o futuro da Euroásia são potencialmente enormes.


A 20 de Janeiro, em Teerão, a Rússia e o Irão assinaram um acordo de cooperação militar. O Ministro da Defesa Russo, Sergei Shoigu e o Ministro da Defesa e da Logística das Forças Armadas Iraniano Hossein Dehghan assinaram um novo acordo. Comentando sobre o seu significado, Shoigu declarou: "Uma base teórica da cooperação no domínio militar foi criada." Ele acrescentou que os dois países chegaram a acordo sobre "a cooperação bilateral no que diz respeito a práticas e promoção de um aumento das capacidades militares das forças armadas dos nossos países". Os dois ministros também concordaram sobre "a importância da necessidade de desenvolver a cooperação entre a Rússia e o Irão na luta conjunta contra a intromissão nos assuntos da região de forças externas que não fazem parte do que foi esquematizado", declarou o Ministro da Defesa Iraniano Dehghan. Para se certificar de que ninguém confundiu o que ele quis dizer, ele acrescentou que a razão para o agravamento da situação da região era a política dos EUA que "interfere nos assuntos internos dos outros países".

A aproximação dos dois países euro-asiáticos, ambos banhados pelo estratégico Mar Cáspio, tem enormes implicações para a geopolítica global. A administração Obama tem tentado conquistar o Irão com uma vara (sanções económicas) e uma cenoura (promessa do levantamento das mesmas) uma forma ao longo dos últimos 18 meses para obter de Teerão um acordo de grandes concessões no seu programa nuclear. Até recentemente, apesar das sanções dos EUA por causa da Ucrânia, a Rússia estava disposta a mostrar "boa fé" a Washington, participando nas negociações sobre o nuclear dos 5-1 com o Irão para convencer Teerão a fazer grandes concessões sobre o seu programa nuclear, em que a Rússia construiu a única usina nuclear completa de Bushehr, a primeira no Médio Oriente. Essa fase está claramente terminada e nas mãos do Irão estão as negociações com os EUA, França, Alemanha, Reino Unido que acabarão de decidir sobre o reforço de mais sanções ou não.

O Irão, a Síria e as Guerras dos Oleodutos

Para Washington, a pressão nuclear é parte de uma tentativa de forçar o Irão a abandonar o seu aliado, Bashar al-Assad na Síria, a fim de abrir o caminho para o Qatar, um aliado próximo da Arábia Saudita e do local com o maior campo de gás natural do mundo situado no Golfo Pérsico. O Qatar, que tem sido o principal financiador dos terroristas do ISIS treinados pelos EUA e por Israel na Síria e no Iraque, quer agora exportar o seu gás para a UE, através da Síria e da Turquia.

O Irão, que detém a outra parte desse enorme campo de gás do Golfo Pérsico, o North Pars, nas suas águas marítimas, assinou um acordo estratégico sobre um oleoduto com Assad e o Iraque em Junho de 2011 para construir um novo gasoduto Irão-Iraque-Síria de 1500 quilómetros na sua parte do maior campo do mundo de gás que começa a partir de Asaluyeh, o porto iraniano perto do campo de gás do South Pars, para Damasco, na Síria. De lá, o gasoduto iria via Líbano para o leste do Mediterrâneo e para o enorme mercado de gás da UE. Chamaram-lhe o “Islamic Pipeline [Pipeline islâmico].”

O volume de gás do Irão seria modesto em comparação com o gasoduto original da Gazprom da Rússia, o  South Stream. Estima-se que 20 biliões de metros cúbicos por ano permaneceriam após as necessidades de consumo local (pré-guerra da Síria) a partir desse gasoduto Irão-Iraque-Síria, para a Europa, em comparação com os 63 biliões do South Stream.

O Qatar seria o perdedor. O Qatar, um país do Islão Sunita, que financia o ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), bem como a Irmandade Muçulmana e outros tais Jihadists charmosos, não gosta da ideia. O Qatar aproximou-se de Assad em 2009, para lhe propor um gasoduto Qatar-Síria para a UE através da Turquia, mas foi imediatamente recusado. Assad disse que as suas relações com a Rússia e a Gazprom eram mais importantes. Foi justamente no momento da assinatura do Pipeline islâmico Irão-Iraque-Síria em Junho de 2011 que Washington, a Arábia Saudita e o Qatar decidiram lançar uma guerra em grande escala para derrubar Assad e substituí-lo por um regime sunita amigável do Qatar e Washington. Dificilmente seria uma coincidência.

Relações militares mais estreitas entre Irão e Rússia

Hoje, a Rússia de Putin e o Irão  são os dois aliados firmes de Assad na Síria, na sua guerra para livrar a Síria dos terroristas da ISIS treinados pelos EUA. No entanto, a colaboração entre Moscovo e Teerão tem sido cauteloso até agora.

Em 2010, quando ele era presidente responsável pela política externa e de defesa russa nos termos da Constituição, Dmitry Medvedev fez muitas acções conciliatórios para chegar ao "lado bom" de Washington. Essa era a época dos idiotas de Hillary Clinton do "reset" nas relações EUA-Rússia  após Putin então ter saído e Obama ter inaugurado a nova abordagem de uma "paz Democrata".

Uma das mais custosas decisões feitas por Medvedev foi a sua assinatura de um decreto presidencial em Setembro de 2010 para apoiar a proibição patrocinada pelos EUA das Nações Unidas sobre as vendas de todas as armas para o Irão como parte de sanções dos EUA contra o alegado programa de armas nucleares do Irão. Os custos da proibição russa às indústrias militares chegaram até aos US $ 13 biliões em vendas técnico-militares com o Irão ao longo dos últimos anos, de acordo com uma estimativa do Centro para Análise do Comércio de Armas Mundiais  (CAWAT).

O decreto de Medvedev proibiu todas as vendas militares da Rússia ao Irão e incluiu as transferências de armas para o Irão de fora das fronteiras da Rússia por aviões ou navios que operassem sob a bandeira do estado russo.

Medvedev também anulou retroactivamente as compras pré-pagas do Irão do sofisticado sistemas de mísseis russo S-300 Superfície-ar  SAM. O Irão então processou a Rosoboronexport do estado russo  no Tribunal de Conciliação e Arbitragem em Genebra da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Até à data, a questão dos S-300 tem sido a principal discórdia entre Teerão e Moscovo. Agora, de acordo com um relatório na DebkaFile.com, um site supostamente ligado à inteligência de Israel, a Rússia concordou em não apenas entregar os sistemas de mísseis S-300 SAM que o Irão comprou em meados de 2007. A Rússia vai também entregar os sistemas de mísseis avançados S-400 ao Irão. Eles citam o Ministério da Defesa iraniano, "Os dois países decidiram resolver o problema dos S-300s." O coronel-general Leonid Ivashov, ex-funcionário do Ministério da Defesa russo, acrescentou: "Um passo foi dado na direcção da cooperação na área da economia e tecnologia militar, pelo menos para os tais sistemas defensivos como os S-300 e os S-400 ".

Especialistas militares dizem que os S-400 são muito superiores aos misseis Patriot PAC-3 dos EUA. Acredita-se ser o primeiro sistema no mundo que pode usar selectivamente vários tipos de mísseis, tanto os previamente desenvolvidos SAMs como os novos e únicos SAMs. São móveis, tornando-se de difícil detecção. Eles podem atingir bombardeiros estratégicos, como os B-1, FB-111 e os B-52H; Aviões de guerra electrónica, tais como os EF-111A e os EA-6; Aviões de reconhecimento, tais como os TR-1; Aviões com radar de pré-aviso como os E-3A e os E-2C; Caças como os F-15, F-16; Aviões de invisibilidade, como o B-2 e o F-117A; Mísseis de cruzeiro estratégicos como os Tomahawk; Os mísseis balísticos de alcance até 3,500 km.

Além disso, o mais colossal elefante branco em termos de armas do Pentágono, até à data, o Lockheed Martin F-35 Joint Strike Fighter (caça), não foi projectado para penetrar a cobertura dos sistemas S-300P/S-400. Oops ...

O F-35 norte americano é uma arma nuclear com capacidade de destruição em massa, suposto ser o "caça do futuro", quando foi iniciado em 2001 nos dias de Rumsfeld no Pentágono. É uma década perdida, 100% acima do orçamento, e deverá custar US 1,5 triliões de dólares ao longo da sua vida útil, dos quais US $ 400 biliões já foram gastos. Cortes sobre "sequestro"(retenção) na defesa no mandado de Obama levaram a faca aos planos dos F35 e a outros projecto grotescos do Pentágono há apenas dois anos. Agora, usando o ISIS na Síria e no Iraque e o "conflito" na Ucrânia com a Rússia, o mais recente orçamento de defesa de Obama pede para que se exceda em US 35 biliões na rubrica das reduções das distribuições retidas(?). As crises da Ucrânia e do ISIS parecem ter resgatado o complexo industrial militar dos EUA em cima da hora ...

Se o relatório DebkaFile sobre o sistema de mísseis S-400 ao Irão é verdadeiro, e que certamente parece ser, então, a geopolítica de toda a guerra entre a Administração Obama e a Rússia e o Irão e a Síria, e em breve a China, é realmente muito estúpida.

A batalha está a ser liderada pela falta de visão dos falcões em torno do presidente Obama, tal como a consultora da NSC, Susan Rice. Eles parecem incapazes de compreender as conexões entre os eventos, e são, portanto, por definição pessoas não inteligentes. Eles está a ser conduzidos pelo complexo industrial militar dos Estados Unidos, e de forma destacada pela Lockheed Martin, o principal contratante do desastroso F-35. Eles estão a ser conduzidos por uma Oligarquia muito rica e viciada no poder que de alguma forma, pensa que é a dono do mundo. Na verdade, como os recentes acontecimentos comprovam, eles estão a perder o mundo que eles achavam que controlavam pela sua própria estupidez. Alguns chamam-lhe a lei das consequências não intencionais.

F. William Engdahl é consultor e professor de risco estratégico, ele é formado em política na Universidade de Princeton e é um autor best-seller do petróleo e geopolítica, exclusivamente para a revista online “New Eastern Outlook”.


1 comentário :

  1. A Arma Mais Potente Do Mundo É O Respeito Pelo Ser Humano; Seja Ele De Que Nação For; A Produtividade; As Crianças O Respeito Pelo Próximo; Nunca Violando Os Direitos De Igualdade; Pois Se Nascemos Nus; Morremos Não Levamos Nada Para Quê Guerra, Ganancia, Violência.???

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